quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

DE MÃOS UNIDAS PARA BRINCAR DE RODA: RELATO E REFLEXÕES DO ESTÁGIO NA EDUCAÇÃO INFANTIL. ( ANGÉLICA DOURADO COLPO & DANILO PEREIRA DA ROCHA )

Introdução

É muito comum aqui no campus XVI, em Irecê, o ingresso de discentes que fizeram vestibular para o curso de Pedagogia por não haver outro curso público na região. Não podemos negar que este também foi nosso caso. Quando começamos o curso ouvimos que nós nos apaixonaríamos pela Pedagogia, resistimos muitas vezes, mais foi inevitável.

A resistência aconteceu porque não entendíamos o que significava Pedagogia e tão pouco suas especificidades, tínhamos uma idéia distorcida de como era o trabalho do pedagogo (a), o qual nos parecia semelhante ao de uma babá. Ao longo do curso desfeito estes equívocos a Pedagogia passo a ser entendida de outra forma e seus conhecimentos são essenciais a qualquer profissional no contexto educacional.

Nos cursos de docência, como é o de Pedagogia, o estágio é visto pelos alunos como ápice do curso. Nós aguardemos ansiosos pelo estágio, pois como nunca tinha entrado na sala-de-aula como profissionais da educação, seria este o momento de colocar em prática tudo que construímos de conhecimento até o momento.

Neste artigo traremos reflexões sobre nosso estágio, que aconteceu com o grupo três da Creche Mãe Du, na cidade de Ibititá, no período entre vinte de outubro à primeiro de novembro. Tendo o título, “De mãos unidas para brincar de roda: construindo o respeito à diversidade”, cuja temática era o respeito à diversidade.

O projeto

Para a construção do projeto de estágio, foram feitas observações no grupo onde seria realizado o estágio. Logo no primeiro dia de observação podemos presenciar uma atitude discriminatória por parte de uma criança para com um colega. A discriminação aconteceu durante uma brincadeira de roda, quando esta criança negou-se a segurar a mão de seu colega que era negro, analisando mais profundamente o cotidiano do grupo podemos perceber o quanto profundo e enraizado estava o preconceito em algumas daquelas crianças.

Durante seu processo inicial de socialização as crianças aprendem a fazer avaliações, estas se vinculam aos rótulos apesar das crianças terem pouca idéia de que o rótulo significa. Allport (apud, STROMMEN, 1986) chama isso de aprendizagem pré-generalizada porque as avaliações precedem à compreensão clara daquilo que o rótulo significa. Através da aprendizagem pré-generalizada, as crianças são frequentemente instruídas a ter sentimentos negativos a respeito do rótulo uma vez aprendido.

Para Eliane Cavalleiro, a escola ensina a criança negra a silenciar, o que chama de “aprendizado de silêncio”, na medida em que se omite nos conflitos entre as crianças. Assim, a escola através dos professores das crianças pequenas que se negam promover a atitude de manifestações de respeito, reforça os estereótipos e preconceitos.

A partir deste contexto construímos como principal objetivo do nosso estágio possibilitar a construção de atitudes de respeito à diversidade. Para alcançar este objetivo, as atividades desenvolvidas durante o estágio foram baseadas no pressuposto que o ser humano é um ser social, tornando assim a interação o principal recurso metodológico.

Encantando com a hora da roda

À hora da roda, que acontecia esporadicamente no grupo em nosso estagio passo a ser diária, torn-se um importante suporte metodológico para oportunizar a construção valores sócio-morais e cognitivos. Neste momento tivemos oportunidade de conhecer os alunos e suas características, promovendo a construção de uma boa relação de respeito, cooperação e comunicação entre os envolvidos (professor-aluno, aluno-professor).

Com o objetivo de desenvolver nos alunos oralidade e promover a interação dos mesmos por meio de suas vivências, trabalhamos com várias possibilidades para que nossa meta fosse alcançada.

Reportando ao primeiro dia de estágio, a hora da roda, encheu-nos de entusiasmo. Apresentamos-nos a turma e começamos a conversa para conhecê-los, coletamos várias informações de como foi o final de semana, de que brincaram, o que fizeram na casa dos pais, dos avós, o que viram na televisão. Teve cada estória interresante! Até baleia na casa da avó tinha. Que imaginação!

Mas não paramos por aí, instigamos as crianças se conheciam um jornal, para que servia, onde encontrávamos, e quem sabia escrever um jornal? Daí veio um clique, poderíamos fazer um jornal, um jornal desta turma, vocês vão nos ajudar? Partindo deste momento, construímos o jornal da turma, destacando os pontos: o que vi na TV !; minha brincadeira; sessão desenho; o que fiz na casa da vovó; meu diário.

Depois da construção, fizemos o mais importante, a socialização do material produzido pelos alunos. O universo da imaginação era tamanho, que nem cabia direito no papel, pois quando fomos socializar a interpretação do desenho tinha vários significados para um único desenho. Através da hora da roda conhecemos suas diferenças e respeitamos as vivências dos alunos.
Movimentado o corpo

É muito comum as instituições de educação infantil e os pais verem as brincadeiras como secundárias no desenvolvimento das crianças, a importância maior é passada para atividades desenvolvidas em folhas de papel que serão arquivadas em uma pasta e que será entregue aos pais, em dias comemorativos como o dia das mães ou dos pais ou no final do ano letivo.

Bettelheim (apud, Tomazinho, 2003) diz que quando a criança exercita e movimenta seu corpo, sente tanto contentamento que se expressa gritando, falando alto, agitando-se, sem saber qual o motivo dessa alegria. A sala onde estagiamos tinha um espaço físico pequeno que não possibilitava que as crianças se movimentassem , quando levávamos para uma sala com espaço maior, elas começavam a correr sem parecer ter motivo algum. Mas era a felicidade em poder se movimentar e se expressar com – até o momento seu maior meio de comunicação – seu corpo. As atividades de movimento estiveram presentes de diversas formas durante todos os dias do estágio, atividades com obstáculos, corridas, esconde-esconde, e principalmente brincadeiras de roda.

Ao brincar de roda, a criança desenvolve os processos psíquicos, o conhecimento do próprio corpo, a estrutura de linguagem, e também se diverte, com diz Lima (apud, Tomazinho, 2003). As brincadeiras de roda estavam em nosso planejamento, mas as crianças as pediam de forma tão freqüente que varias vezes tivemos que mudar o planejamento. As músicas sempre partiam delas e eram sempre as mesmas, mas que sempre pareciam novas. Novo animo, nova alegria e novo aprendizado.

Nina e Nino: as caixas surpresas

Baseada numa historia, da qual não me recordo o autor, em que uma professora utilizava em suas aulas uma maleta, que não era mágica, mas provocava encantamento sobre as crianças, a professora Edineiram Maciel solicitou que durante o estágio utilizássemos alguma maleta, caixa, baú, saco ou qualquer coisa que encantasse e interagisse como a imaginação das crianças.

Não foi fácil criar uma maleta que se relacionasse com nossa temática de estágio. Depois de muito pensar, e descartar inúmeras idéias, decidimos que nossa maleta seria uma caixa surpresa, ou melhor, dois amigos, um menino e uma menina, um negro e um branco, embutindo assim a idéia norteadora do nosso estágio: o respeito à diversidade.

Lembramos ainda de como os olhos das crianças brilhavam e se questionavam o que eram aquelas duas caixas, era um menino e uma menina? Qual o nome deles? Só a presença das caixas já encantava os alunos, depois de apresentarmos e pedir que eles dessem nomes, Nino e Nina foram escolhidos por eles, uma mágica surgiu como se viesse por encantamento, e as atividades trazidas pelos amigos possibilitavam e deixavam as aprendizagens mais prazerosas.

A construção do respeito

Como já foi dito anteriormente o objetivo maior de nosso estágio era propiciar meios para a construção de atitudes de respeito à diversidade. Como também já foi dito o principal recurso metodológico utilizado foi a interação, pois sendo nosso objetivo desenvolver atitudes, este não poderia ser alcançado apenas oferecendo atividades individuais. Para alcançá-lo era necessário que os alunos interagissem entre eles, com a comunidade escolar, conosco, e consigo.
A interação proporcionou as crianças maior conhecimento das semelhanças e das diferenças entre elas. Porém, é obvio que em apenas dez dias seria impossível desfazer estereótipos já construídos. Contudo, o trabalho com a temática edificou um alicerce para que novos valores fossem construídos. Mas como avaliar se o objetivo foi alcançado? O que nos fez perceber o preconceito em alguns alunos do grupo foi a recusa de um deles em segurar na mão de um colega na brincadeira de roda, ao final do estágio não encontramos mais essa recusa, o que nos faz acreditar que nossa meta foi alcançada.
Conclusão

Este estágio foi por nós muito esperado, porque como ainda não tínhamos experiência com educação, esse seria o momento de colocar em pratica o conhecimento que a faculdade nos impulsionou a construir. Podemos confessar que os medos e as dúvidas de que seriamos capazes de realizar um trabalho de qualidade foram incomensuráveis, até mesmo durante o estágio.

Dúvidas que foram desaparecendo a cada momento que ocorria tudo perfeito, e nos menos perfeitos também. Podemos perceber no final do estágio que conseguimos alcançar nosso objetivo, podemos ver isso quando as crianças brincaram de roda com as mãos dadas, sem preconceitos. Contudo, é certo que aprendemos mais com essas crianças do que eles conosco.

Referências

A IMPORTÂNCIA DAS ATIVIDADES E BRINCADEIRAS CORPORAIS PARA O DESENVOLVIMENTO INFANTIL. Disponível em <
http://www.abpp.com.br/abppprnorte/pdf/a12Tomazinho03.pdf > Acessado em: 10/12/2007
SÓ NÃO ENXERGA QUEM NÃO QUER: RACISMO E PRECONCEITO NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Disponível em <> Acessado:20/10/2007

STROMMEN, Ellen A. Psicologia do Desenvolvimento: a criança em idade escolar. Rio de
Janeiro: Campus, 1986.