segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Relatorio do estagio de observação

Introdução

“Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisaras passar, para atravessar o rio da vida – ninguém, exceto tu, só tu”. (Nietzsche apud Meyer, 2007).


Este trabalho é o relato do meu estagio de observação, que ocorreu no período de 26/03 à 17/05/2007, durante o meu quinto semestre no curso de Pedagogia, na Universidade do Estado da Bahia (UNEB). No inicio do semestre a professora da disciplina Pesquisa e Estagio, Joelma Bispo, nos pediu para redigir um texto com nossa opinião sobre o que seria docência, na época escrevi:

“Docência é o ato de educar, não apenas no sentido de mediar o educando com o conhecimento sócio-historicamente construído, mas também educar como ser humano para que ele possa construir seus valores e sua identidade.”

Acredito que a educação – em especial a educação escolar – não deve ser uma fabrica de formar seres iguais. A educação deve propiciar aos indivíduos meios para a construção de sua identidade, e isso só será possível se esse educador tiver definido sua identidade profissional. Selma Garrido Pimenta (2000) aponta a importância de construir a identidade profissional do educador, não como imutável, pois a profissão docente tem um caráter dinâmico como pratica social. Para ela é na leitura critica da profissão diante das realidades sociais que se buscam os referenciais para modificar a identidade profissional.

Ainda não exerço a profissão docente, por isso este estagio é a primeira ponte que construo para formar a minha identidade profissional. Dessa forma este relatório traz pontos importantes que observei na Educação Infantil, no Ensino Fundamental e no Espaço não-formal de educação. Pontos necessários para construção da minha identidade profissional.

Educação Infantil

A Educação Infantil (EI) é, segundo a LDB em seu artigo 29, a primeira etapa da educação básica, tendo como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social. Minhas observações na EI foram feitas na Creche Mãe Dú, na cidade de Ibititá, nos dias 23 e 24/04/2007. O estabelecimento atende crianças de três a seis anos de idade, consistindo assim de creche e pré-escola. A Creche Mãe Dú é um estabelecimento municipal, possui sete salas, uma brinquedoteca, um refeitório, um pequeno teatro, uma quadra desportiva, além de cozinha, secretaria e banheiros.

Observei o grupo 4 – crianças de quatro anos – que segundo Jean Piaget está no período pré-operacional. Clara Regina Rappaport (1981) vem nos ajudar a entender como é essa criança:

“Teremos, então uma criança que a nível comportamental atuará de modo lógico e coerente (em função dos esquemas sensorial-motores adquiridos na fase anterior) e que a nível de entendimento da realidade estará desequilibrada (em função da ausência de esquemas conceituais).

O egocentrismo se caracteriza, basicamente, por uma visão da realidade que parte do próprio eu, isto é, a criança não concebe um mundo, uma situação da qual não faça parte, confunde-se com objetos e pessoas no sentido de atribuir a eles seu próprio pensamento, sentimento, etc.” (p.68).


O grupo possui dezoito alunos, sendo onze meninos e sete meninas, nenhum era portador de necessidade especial. Quanto aos números de alunos negros eu e uma colega que observava no mesmo grupo, travamos um debate sobre o caracteriza uma pessoa como negra. Acredito que o caracteriza uma pessoa como negra é seu sentimento de pertença e de identidade, por isso não apresentarei esse dado. A relação entre as crianças era boa, não foi observado nenhum atrito entre elas.

As crianças chegam à creche às oito horas, durante meia-hora brincam livremente, após participam da abertura com as professoras, e em seguida vão tomar café. As atividades em sala de aula começam por volta das nove horas. A sala do grupo 4 possui duas grandes mesas, cada uma com dois grandes bancos. As crianças ao entrar escolhem a onde querem sentar, e como não ficam quietos, está sempre trocando de lugar, o que facilita a interação entre elas.

A primeira atividade em sala de aula foi à hora da roda, que acontece no cantinho da leitura, e teve como leituras os textos “É meu e não empresto” de autor não especificado pela professora e “O sapo e o boi” de Jean de La Fontaine. De Vires e Zan (1998) dizem que de todas as atividades realizadas em sala de aula, a hora da roda pode ser mais importante, em termos da atmosfera sócio-moral, esta é definida por elas como sendo toda rede de relações interpessoais em uma sala de aula. Os textos lidos, o comportamento da professora em relação aos alunos e dos alunos entre si, me faz acreditar que aquele era um ambiente de cooperação.

As atividades seguintes, em ambos os dias envolveram principalmente o letramento, que sempre partia de um texto lido pela professora, no primeiro dia o texto foi à poesia “A foca” e no segundo o texto “Minha Boquinha”, e depois era contextualizada com o nome das crianças. Os alunos são informados a cada atividade do que irão fazer, e os materiais usados são entregues pela professora.

Uma das atividades que mais me chamou a atenção aconteceu no segundo dia de observação, a temática do dia era a boca, o que envolvia também o paladar. A professora pediu que os alunos se colocassem junto à parede do quadro e fechassem os olhos, ela em seguida colocou na boca deles – café, sal, limão e bala para as crianças poderem diferenciar os sabores, e a partir daí saber reconhecer eles. A maioria das crianças não soube explicar qual era a diferença entre os gostos, e quase nenhum – ou melhor, nenhum – ficou de olhos fechados até o fim da atividade, mas todos adoraram a bala.

Tentei encontra na pratica da professora observada nesses dois dias e nas atividades expostas das crianças em sala, resquícios da Educação Ambiental, infelizmente não os encontrei. A seguir trago o relato de minhas observações no Ensino Fundamental, da tentativa – e do desejo – de encontra a Educação Ambiental.

Ensino Fundamental


O ensino Fundamental (EF) tem por objetivo – que é explicitado no artigo 32 da LDB – a formação básica do cidadão, mediante principalmente o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do calculo. As principais diferenças entre a Educação Infantil e do Ensino Fundamental estão no tempo de permanência da criança nesse segmento da educação, e na organização dos conteúdos em disciplinas especiais que na maioria das vezes não dialogam entre si.

Minhas observações no EF foram feitas na cidade de Ibititá, na Escola Hermano Marques Dourado, nos dias 7 e 8/05. A escola é uma instituição municipal, possui sete salas, e uma área livre grande e bastante arborizada. Observei a segunda serie, a turma possuía quatorze alunos, sendo nove meninas e cinco meninos, com sete, oito e nove anos, que segundo Jean Piaget está no período das operações concretas. Para Rappaport - explicando Piaget - temos uma criança que caminha lenta, mas decisivamente, de um estado de indiferenciação, de desorganização do pensamento e da autocentralização, para uma compreensão lógica e adequada da realidade que lhe permite o perceber-se como um individuo entre outros.

De acordo com Henri Wallon, estas crianças encontram-se no estagio categorial de desenvolvimento, que é explicado por Suely Aparecida Amaral:

Nesse período, a criança continua a se desenvolver, tanto no plano motor como no afetivo, mas as características do comportamento são determinadas principalmente pelo desenvolvimento intelectual, e é nesse domínio que se pode perceber grandes saltos. A criança aprende a se conhecer como pessoa pertencente a diferentes grupos, exercendo papeis e atividades variadas. Toma conhecimento de suas possibilidades, adquirindo um conhecimento mais completo e concreto de si mesma. (p.52)

As aulas nesta escola iniciam às 8h e terminam às 11h30min, com um intervalo às 10h. A sala em que observei era organizada em filas, as crianças ficavam livres para escolher a onde gostariam de sentar, e escolhiam os lugares próximos dos colegas que tinham maior afinidade. Observei uma leve discriminação dos alunos mais novos para como alunos mais velhos, ouvi a seguinte frase de uma aluna sobre uma colega: “ela é burra! Tem nove anos e nem sabe ler direito”. Uma das conseqüências mais visíveis desta discriminação era que a criança vitima tinha receio de se manifesta na sala. Acredito que o professor não tenha percebido essa discriminação.

As atividades nos dias de observação iniciaram com a correção do dever de casa. No primeiro dia a atividade seguinte foi à leitura da poesia “A borboleta” de autoria não explicita pelo professor. Após o professor ler a poesia, ele pediu que os alunos a copiassem, em seguida foi feito um ditado que funcionava da seguinte maneira: o professor dizia uma palavra, por exemplo, azuis, e pedia para os alunos circularem em seus cadernos, depois do ditado, o professor pediu a voluntária para ir ao quadro circular as palavras do ditado.

Ainda no primeiro dia de observação os alunos criaram uma tira de quadrinhos. As tiras foram feitas com base em piadas do livro didático de português. A atividade foi feita em grupos, tendo como matérias; cartolina, papel ofício, tesoura, cola e lápis de cor. Ouvi certo problema durante a atividade, por que, alguns dos grupos não queriam dividir os lápis de cor, problema que foi contornado pelo professor.

No segundo dia de observação, o professor durante a aula de ciência sobre animais domésticos e selvagens trabalhou um dos pontos da educação ambiental, que é regulamentada no Brasil pela Lei nº. 9.795, de 27 de abril de 1999, nela a educação ambiental é entendida como: “os processos por meio dos quais os indivíduos e a coletividade constroem valores sociais, (...), e competências voltadas para a conservação do meio ambiente”.

Durante, a explicação dos animais selvagens, o professor falou sobre as onças, e um dos alunos disse que as onças serviam para serem caçadas, é comum na cidade de Ibititá os homens saírem para caçar na serra do Uibaí, o professor respondeu ao aluno que não se deveriam caçar os animais, pois eles são necessários para continuidade da vida sobre a terra. Infelizmente, a educação ambiental não é o foco principal e motivador das aulas desse professor.

Espaço Não-formal de Educação

Minhas observações no espaço não-formal de educação foram feitas no Grupo da Terceira Idade, na cidade de Ibititá, que atende pessoas idosas – que são pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos, segundo a Lei nº. 10.741/03. Os encontros do grupo acontecem no Centro Geração Emprego e Renda, em uma sala emprestada do programa federal Agente Jovem, é um local pequeno, de fácil aceso, e sem obstáculos físicos que poderiam ocasionar acidentes.

O espaço foi criado para pessoas de ambos os sexos, contudo só é freqüentado por mulheres, há certa recusa dos homens em participar do grupo, fato que pode ser explicado por motivos culturais. O principal objetivo do espaço é inserir o idoso na comunidade proporcionando melhor qualidade de vida, através de ações biopsicosocial, como prevenção e informação relacionadas à saúde, bem-estar físico e mental principalmente do idoso em situação de risco. O termo situação de risco designa idosos com problemas de depressão.

O grupo tem rotina bem definida, mas que pode ser mudada de acordo com os interesses do grupo, a rotina é a seguinte:

1- Oração
2- Atividade em grupo
3- Ensaio (que nos dias da observação foi da quadrilha junina)
4- Intervalo
5- Conversa para enterrar os membros do grupo das atividades, passeios e apresentações.

A atividade em grupo em um dos dias observados, tinha como objetivo reforçar a interação, e agir na auto-estima dos membros do grupo. Antes da atividade foi colocado um papel nas costas de cada membro do grupo, em seguida colocou-se para tocar uma musica, durante a musica elas deveriam escrever nas costas das colegas uma qualidade, após o termino da musica elas socializaram suas qualidades.

O grupo tem papel importante na vida dessas senhoras, auxiliando-as no combate a depressão e na elevação de sua auto-estima, ficando evidente os resultados do grupo através da energia, da fisionomia e do sorriso das senhoras.

O termino da construção da primeira ponte: considerações finais

Observar é olhar (-se) com atenção, com aplicação; é estudar (-se). Neste estagio de observação não olhei apenas os professores e as formas como eles ensinam e como agem com relação aos alunos, antes de tudo eu me olhei. Olhei-me, me observei, me estudei e me imaginei em cada situação, como eu reagiria, como ensinaria...

Sei que a imaginação é muito diferente da realidade e que a construo com base nos conhecimentos que adquiri até o momento, e que muita coisa em mim irá mudar até eu entrar em uma sala de aula para educar.

Educar, essa é a palavra e o ato, tinha muitas duvidas quando entrei na faculdade se era isso que eu queria fazer, e se eu faria bem. Ainda tenho muitas duvidas, mas não se quero fazer isso, por que quero! Se vou fazer bem, vai depender das pontes que vou construir em minha vida.


Referência:

AMARAL, Suely Aparecida. Estágio categorial. IN: MAHONEY, Abigail Alvarenga; ALMEIDA, Laurinda Ramalho. Henri Wallon: psicologia e educação. São Paulo, SP: Editora Loyola, 2000.

BRASIL. Lei nº10. 741. Brasília, 2005.

CRAIDY, Carmem Maria; KAERCHER, Gládis Elise P. da Silva (orgs.). Educação Infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.

DEVIRES, Rheta; ZAN, Betty. A ética na educação infantil: o ambiente sócio-moral na escola. Porto Alegre: Artes Medicas, 1998.

Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
Disponível <> acessado em: 15/07/2007

Lei nº. 9.745, de 27 de abril de 1999. Disponível em< http://www.lei.adv.br/9795-99.htm > acessado em: 20/07/2006. Acessado

MEYER, Ivanise C. Rezende. Brincar e Viver: projetos em educação infantil. 3 ed. Rio de Janeiro: Wak editora, 2007.

PIMENTA, Selma Garrido (orgs.). Saberes pedagógicos e atividade docente. 2 ed. São Paulo, SP: Cortes, 2000.

RAPPAPORT, Clara Regina. Psicologia do desenvolvimento. São Paulo: E.P.U., 1981.

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