sexta-feira, 20 de junho de 2008

RELATÓRIO DE OBSERVAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE O ENSINO NAS SERÉIS INICIAS. ANGÉLICA DOURADO COLPO & DANILO PEREIRA DA ROCHA

Apresentação

Neste relatório expomos nossas reflexões sobre as observações feitas na segunda série do Ensino Fundamental da Escola Luiz Viana Filho. Esta etapa que antecede o estágio é de máxima importância para contato inicial com o grupo no qual será efetivado o estágio, propiciando meios que subsidiem a construção do projeto.

Vemos também o período de observação como meio de refletir sobre as práticas existentes no sistema educacional brasileiro. As reflexões feitas por nós neste relatório foram construídas com bases nos conhecimentos desenvolvidos através dos nossos estudos no curso de Pedagogia, pela Universidade do Estado da Bahia, no Campus XVI.

Introdução

Ao iniciar o 7º período foi proposto pela disciplina de Estágio e Pesquisa a realização do estágio de observação nas séries iniciais do ensino fundamental. Com este propósito, realizamos as observações na Escola Luiz Viana Filho, situado à Rua Otaviano Marques Dourado, na cidade de Ibititá no período de 11 a 18 de março de 2008.

O presente relatório se divide nas seguintes partes: primeiramente apresentamos a escola e seus aspectos, logo após, mostramos a ausências das disciplinas de Geografia, Ciências e história do conteúdo ensinado durante o período de observação, a seguir refletimos sobre o ensino da Língua Portuguesa e também sobre o ensino da Matemática, e finalizamos com nossas considerações.

A Escola

A unidade escolar, Escola Luiz Viana Filho, foi construída na década de 70, atualmente conserva a mesma estrutura física, com algumas modificações. Sendo composta por 7 salas de aula, secretaria, cantina, banheiros e uma área livre que é chamada de quadra. A escola possui 330 alunos, nos turnos matutino e vespertino, com uma variação de 22 a 30 alunos por sala. Estes são carentes, moradores de bairros periféricos e da Zona Rural. A escola tem um quadro de 19 professores; sendo que destes, 10 fazem graduação na rede UNEB-2000 e 6 fazem formação continuada no programa Gesta (português e matemática).

A unidade possui equipamentos básicos, como o mimeografo, som e TV, e o material didático, papel oficio, e o livro didático enviado recentemente pelo Mistério da Educação, porém, alguns professores não iram utilizá-los, o motivo segundo eles é que iram trabalhar “com os livros que já utilizam há anos, e que estão acostumados.”

A interdisciplinaridade como meio para compreensão do mundo

Durante as observações percebemos que o ensino das disciplinas de Ciências, Geografia e História, fora excluídas do planejamento do professor. Entendemos que a sua prática pedagógica esta permeada de uma concepção que vê o ensino de forma separada, fragmentada, caracterizando o ensino dessas disciplinas como pouco significativas. Deste modo, as disciplinas de Português e Matemática obtiveram uma valorização demasiada, o que transpareceu que o mais importante na 2ª série do ensino fundamental é aprender a ler e a contar.

Nesta perspectiva educacional, constata-se que o ensino dessas disciplinas (Ciências, Geografia e História), estava colocado à margem da prática instituída em sala de aula no período da observação (11 a 18/03//08), se esses os conhecimentos não possibilitassem o trabalho sistematizado da leitura e da escrita, justamente por não conseguirem perceber a interdisciplinaridade como eixo pedagógico. De acordo com Straforini (2002),


Sabemos que nos primeiros ciclos do ensino fundamental o ensino de Geografia, assim como as outras disciplinas que não sejam Português e Matemática, ocupam um papel secundário, muitas vezes irrelevante no cotidiano da sala de aula. Sabemos que este problema decorre da falta de discussões teóricas, metodológicas e epistemológicas, bem como do grande problema na formação dos professores das séries iniciais, que assumem as suas dificuldades perante a discussão teórica das referidas disciplinas (p. 96).


Desse modo, o processo de ensino-aprendizagem mostra-se fragmentado, descontextualizado e que não explora os limites de cada campo disciplinar. Numa prática de ensino com essas características, há poucas evidências que possa gerar aprendizagens significativas. Sabemos que a produção do conhecimento acontece principalmente pela capacidade de contextualizar e englobar (MORIN, 2006) que sugere uma outra organização de conhecimentos de modo a superar a abordagem linear e fragmentada dos conteúdos. Sob este enfoque é que acreditamos que o ensino deveria ser interdisciplinar favorecendo aprendizagens significativas, que permitam a percepção do mundo como um todo, possibilitando um conhecimento global, e não uma noção fragmentada da realidade (SANTOMÉ, 1998).

Contudo, entendemos que a regente não tem cursos de formação continuada com suporte teórico necessário para trabalhar com situações que transcendem a visão tradicional, a sua postura revela uma visão limitada do que seus alunos precisam aprender. O que nos deixou preocupados. Transparecendo que para os alunos seria suficiente saber ler e contar, o que não é verdade, pois vivemos em uma sociedade que exige cada vez mais de conhecimentos complexos e interligados, visto que os problemas atuais não podem mais ser compreendidos pela ótica de apenas uma disciplina.

Para esse processo torna-se imprescindível a mudança nas ações da prática pedagógica da professora, visto que o seu papel é de orientar, mediar na construção do conhecimento para obter resultados positivos. Vygotsky (1993) diz que é fundamental para a construção do conhecimento a interação com o outro, sendo que a ótica de interação sócio-afetiva sugere um professor inovador e criativo que facilite o desenvolvimento integral dos alunos, isto é, um professor criador de ambientes de aprendizagem, climas, situações, contextos e ambientes estimuladores nos quais os alunos se envolvam nas aprendizagens.

Desta forma as nossas observações ficaram limitadas, porém instigantes. A nossa reflexão agora passa no sentido de como gerar um processo de aprendizagem no qual os conhecimentos tenham algum significado para os alunos, e que contribua para uma real compreensão e enfretamento da realidade.

Copiar, copiar e copiar: o ensino de Português.

Em nossas observações podemos perceber que o ensino da língua portuguesa, ou melhor, o ensino da leitura e da escrita, ainda esta preso a uma concepção que valoriza a fragmentação não só do texto em palavras desconexas do sentido original, mas também do conhecimento, que se separa em disciplinas, sem relação entre - si.

O ensino consiste na leitura pela professora de pequenos textos, alguns sem lógica, e na copia pelos alunos de palavras retiras destes textos. Não existindo produções espontâneas, apenas meras copias mecânica. Foucault (apud, MARTINS) diz que, sendo a instituição escolar um aparelho do Estado voltado para a disciplinarização dos estudantes, este objetivo disciplinar incorpora-se com a linha autoritária de ensino, voltada para a cópia, para os exercícios repetitivos.

Neste processo de disciplinarização negam-se as culturas advindas das camadas populares de tal forma a domesticar, não só as mentes, mas também os corpos e as vontades, nesta perspectiva de ensino as crianças são meros robôs que devem apenas movimentar as mãos para fazer as copias, não refletindo sobre como se escreve, e nem sobre a funcionalidade social da escrita.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais para Língua Portuguesa (BRASIL, 2003) aponta como umas das principais dificuldades que as escolas encontra no ensino da língua portuguesa é de não garantir o uso eficaz da linguagem (escrita e falada), assim a escola não consegue mostrar a funcionalidade da linguagem para os alunos.

“O domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena participação social, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, (...) produz conhecimento.” (BRASIL, 2003, p. 21) Nesta perspectiva o ensino da língua portuguesa é pensado levando em consideração a linguagem que os alunos já utilizam, cabendo então a escola ampliar o repertório lingüístico dos alunos.

O ensino da matemática

Como já foi dito anteriormente durante nossas observações presenciamos apenas aulas de português e matemática, contudo, a presença quase massificante destas disciplinas não garantiam o aprendizado. O que nos leva a questionar quais motivos impendem o desenvolvimento do aprendizado dos alunos. Porém não pretendemos aqui responder diretamente a esta pergunta, traremos aqui pontos do roteiro de observação, fazendo análise com base em estudos que tentam entender um problema nacional, que é o fracasso do ensino da matemática.

No primeiro dia de observação, aula inicio-se com a correção das atividades de casa, os exercícios de matemáticas consistiam em completar as seqüências numéricas, que eram as seguintes:

• 35, 36, 37, 38, 39.
• 45, 46, 47, 48, 49.
• 55, 56, 57, 58, 59.
• 65, 66, 67, 68, 69.

Diante deste exercício podemos perceber que a atividade mental dos alunos é subestimada, privando do desenvolvimento de suas potencialidades cognitivas. Na correção que foi feita pelos alunos, apenas o ultimo não escreveu o número 7 de forma espelhada, sendo que o primeiro aluno percebeu o erro e corrigiu, a professora só percebeu o erro do terceiro aluno, alertada pelos alunos que o segundo também estava errado ela chamou o aluno para corrigir.

A sala é organizada em forma de “U”, possuindo ainda duas filas horizontais de com três mesas cada, o que facilita a interação entre os alunos, aqueles com maior facilidade na resolução dos exercícios “ajudam” aos outros resolvendo as atividades para eles. As atividades eram sempre repetitivas, o que segundo Chagas (s.d.), acarreta por parte dos alunos, futuras memorizações de como estes exercícios forma resolvidos.

A matemática é simples e cotidiana, pois foi construída a partir de necessidades do homem de dominar a natureza, garantindo a sua sobrevivência, como também, considerando o aspecto transcendental do homem, de responder aos seus anseios. (DUARTE, s.d.) Pensando desta forma, percebemos a importância da contextualização para o ensino da matemática, para Biaggi (2000), "não é possível preparar alunos capazes de solucionar problemas ensinando conceitos matemáticos desvinculados da realidade, ou que se mostrem sem significado para eles, esperando que saibam como utilizá-los no futuro". Só assim teremos uma aprendizagem significativa, pois o novo conhecimento será acrescentado aos anteriores, não se justapondo, mas se interligando como os fios de uma rede.




Considerações Finais

Durante as observações podemos perceber o quanto o ensino ainda esta voltada para concepções tradicionais, que fragmentam e descontextualizam o ensino, e minimizam as disciplinas que não são Língua Portuguesa e Matemática. Percebemos também as dificuldades que os alunos possuem em desenvolver seus conhecimentos, mas com o tempo de observação curto, e o não conhecimento mais profundo da realidade social das crianças, não nos permite fazer conclusões acerca do que gera essas dificuldades.

Porém, saímos destas observações acreditando ainda mais num ensino interdisciplinar e contextualizado. As relações no mundo fora da escola são feitas como redes que se interligam, o conhecimento cada vez mais se constrói desta forma, a escola enquanto instituição social formadora não pode negar esta realidade, e continuar fragmentando o conhecimento, e privando seus alunos de plena participação social. A escola não pode ser usada como um agente de controle social.


Referência:

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. 3 ed. Brasília: A Secretaria, 2001.

CHAGAS, Elza Marisa de Figueiredo. Educação matemática na sala de aula: problemáticas e possíveis soluções. Disponível em:< http://www.partes.com.br/ed15/educacao.asp > Acessado em: 24/03/2008.

DUARTE, Estefânia Fátima. Contextualização em Educação Matemática. Disponível em: < http://www.divinopolis.uemg.br/revista/revista-eletronica2/artigo1-1.htm > Acessado em: 23/04/2008.

MARTINS, Maria Sílvia Cintra. Novas Tendências para o Ensino da Língua Português. Disponível em: < www.ffcl.edu.br/congresso/textos/Tend%EAncias%20atuais%20no%20ensino%20da%20L%20Portuguesa%20-%20texto.doc > Acessado em: 23/03/2008.

MORIN, Edgar. A cabeça bem feita : repensar e reforma, reformar o pensamento. Rio de
Janeiro, RJ: Bertrand, 2006.

SANTOMÈ, Jurjo Torres. Globalização e Interdisciplinaridade: o currículo integrado.
Porto Alegre: ARTMED, 1998.

STRAFORINI, Rafael. A totalidade mundo nas primeiras séries do ensino fundamental: um
desafio a ser enfrentado. Terra livre, São Paulo, v.1, n.18, p. 95-114, jan/jun. 2002.

VYGOTSKY, Lev Semenovich. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes,
1993.

Um comentário:

Anônimo disse...

gostei muito de seu relatorio, sou estudante de pedagogia da universidade estacio de sa/rj pegue ate uns paragrafos legais para o meu relatorio
valeu!!!!!! patricia